terça-feira, 20 de setembro de 2016

Tipos de Cantigas Trovadorescas

As cantigas trovadorescas eram divididas em dois tipos: as cantigas líricas amorosas - que eram chamadas de cantiga de amigo e cantigas de amor - e as cantigas satíricas - representadas pelas de escárnio e de maldizer. Tais poemas são conhecidos como canções ou cantigas, pois eram sempre musicados, ou seja, eram cantados e acompanhados por instrumentos musicais, esses normalmente eram de corda, sopro ou percussão.

As canções líricas amorosas tratam do amor de formas diferentes e também possuem características distintas. Nas cantigas de Amor o tema recorrente é a impossibilidade do amor entre o trovador e a sua amada. Esse sentimento é proibido, pois muitas vezes a mulher, ou seja, a Dama é casada ou pertence a classes elevadas da sociedade medieval.  A voz - o que hoje seria algo como o eu lírico – desse tipo cantiga é masculina e idealiza tanto a Dama, que é vista como a mais bela entre as mulheres, quanto o próprio sentimento – tal sentimento é chamado de amor cortês. Uma característica interessante presente nessas cantigas é a vassalagem amorosa, que é quando a mulher e o trovador ocupam metaforicamente as posições de suserano e vassalo respectivamente. Dessa forma, o trovador faz da cantiga o ritual de Homenagem – na Idade Média, tal ritual servia para que o vassalo se comprometesse com seu Senhor, jurando-lhe fidelidade e declarando que desejava servir a ele.   

Outra característica presente é o segredo que o trovador deve manter a respeito da identidade da sua Dama, tratando-a comumente como "mia senhor" – referência à vassalagem amorosa. Era preciso esconder o nome da mulher amada, pois, por mais que esse amor fosse apenas platônico, poderia acarretar problemas para a mulher, tendo em vista as razões pelas quais tal amor era impossível. Além disso, era preciso que o trovador contivesse seu sentimento perto da mulher amada, sendo constantemente paciente, mesmo sabendo que seu amor nunca se concretizaria.

Já nas cantigas de amigo, a voz é feminina, porém o compositor ainda é um homem. Essa mulher pertence à classe popular, podendo ser pastora, camponesa ou exercer qualquer outra função dentro de qualquer outro setor do povo. Tais cantigas tinham como tema a ausência ou o abandono do lar por parte do homem amado, seja porque ele foi servir ao exercito e demora a voltar ou porque ele realmente a abandonou. Essas canções são feitas em forma de diálogo, em que a mulher conta para outra mulher – como sua mãe ou suas amigas-, ou para elementos da natureza – como animais ou flores - o que lhe aconteceu.

As cantigas de amigo, diferentemente das cantigas de amor, não são idealizadas, pelo contrário, são realistas. Isso permite também, uma brincadeira com o vocábulo amigo, que pode significar tanto amante como simplesmente amigo. Dependendo da situação ou lugar em que tais canções são criadas elas podem receber outros nomes, como: canção de romaria,serranilha, pastorela,marinha ou barcarola, bailada ou alvorada. Essas cantigas mostram vários momentos felizes e tristes de um relacionamento amoroso.

Nas cantigas satíricas temos as de Escárnio e Maldizer. Ambas são muito próximas devido ao seu conteúdo irônico que critica tanto os costumes, quanto a sociedade medieval em si.  O que as difere uma da outra é o fato de as canções de Escárnio são indiretas, ou seja, os trovadores fazem críticas de forma que não apareça o nome do objeto da sátira, se valendo de sarcasmos, ironias e de palavras ambíguas para fazer suas zombarias. Já as canções de Maldizer são diretas e agressivas, usando uma linguagem direta, explicitando a quem ou o que a cantiga se refere, ou seja, não se disfarçava a quem a crítica era endereçada. Embora existam tais diferenças entre essas duas formas de cantigas muitas vezes encontraram-se canções que lançam mão dos dois tipos em uma mesma poesia, porém a maioria das canções de escárnio é de Maldizer.


As cantigas que temos hoje, foram preservadas através dos cancioneiros, que são como uma compilação de cantigas. Os mais importantes que temos atualmente são: o Cancioneiro da Ajuda, que foi composto durante o reinado de Afonso III e possui apenas cantigas de amor; o Cancioeiro da Vaticana, que contém os dois tipos de poesias trovadorescas - as líricas amorosas e as satíricas-; e o Cancioneiro da Biblioteca Nacional, que também é conhecido como Colocci-Brancuti, em homenagem aos seus dois possuidores italianos, e possui cantigas da época de Afonso III, D. Dinis e também contêm os dois tipos de canções.

Bibliografia:

MOISÉS, Massaud.  A literatura portuguesa através dos textos. 1ª edição. São Paulo: Cultrix, 1968.

SPINA,Segismundo. A Lírica trovadoresca. 4ª edição. São Paulo: Edusp, 1996.

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