sábado, 24 de setembro de 2016

Cantigas de Afonso X – As Cantigas de Escárnio e Maldizer




Como dito em outra postagem, a produção de cantigas de D. Afonso, também conhecido como Afonso, o Sábio, é majoritariamente de Cantigas de Escárnio e Maldizer. Já apresentamos antes as características apresentadas por cada um dos três gêneros principais de cantigas trovadorescas, mas vale a lembrança a respeito do que são as Cantigas de Escárnio e Maldizer.
Estas são as cantigas satíricas do trovadorismo ou de dizer mal. Dentro da Arte de Trovar, distinguisse duas vertentes: o dizer mal de forma encoberta ou equívoca, chamada então de escárnio, enquanto há também o dizer mal de forma explícita e ostensiva, o qual denomina-se de maldizer. Geralmente as cantigas são consideradas fazendo parte de uma única definição; visto que suas características muitas vezes não são perceptíveis, no próprio texto, para causar a diferenciação e os próprios trovadores costumavam utilizar-se desta definição unificada.
A seguir, algumas Cantigas de Escárnio e Maldizer compostas, separadas por asteriscos (*), por Afonso, o Sábio.


Achei Sanch[a] Anes encavalgada
e dix'eu por ela cousa guisada:
ca nunca vi dona peior talhada,
e quige jurar que era mostea;
e vi-a cavalgar per ũa aldeia
e quige jurar que era mostea.

Vi-a cavalgar com um seu 'scudeiro
e nom ia milhor um cavaleiro.
Santiaguei-m'e disse: - Gram foi o palheiro
onde carregarom tam gram mostea;
vi-a cavalgar per ũa aldeia
e quige jurar que era mostea.

Vi-a cavalgar indo pela rua,
mui bem vistida em cima da mua;
dix'eu: - Ai, velha fududancua,
que me semelhades ora mostea!
Vi-a cavalgar per ũa aldeia
e quige jurar que era mostea.

*
**

Dom Airas, pois me rogades
que vos dia meu conselho,
direi-vo-lo em concelho:
por bem tenh'eu que vaades
mui longe de mi e mui com meu grado.

E por eu [vos] bem conselhar
nom dé-vos com estar peior,
ca vos conselh'eu o milhor:
que vaades ora morar
mui longe de mi e mui com meu grado.

Conselho vos dou d'amigo;
e sei, se o vós fezerdes
e me daquesto creverdes,
morar[e]des u vos digo:
mui longe de mi e mui com meu grado.

*
**

Nom quer'eu donzela fea
que ant'a mia porta pea.

Nom quer'eu donzela fea
e negra come carvom
que ant'a mia porta pea
nem faça come sisom.
Nom quer'eu donzela fea
que ant'a mia porta pea.

Nom quer'eu donzela fea
e velosa come cam
que ant'a mia porta pea
nem faça come alermã.
Nom quer'eu donzela fea
que ant'a mia porta pea.

Nom quer'eu donzela fea
que há brancos os cabelos
que ant'a mia porta pea
nem faça come camelos.
Nom quer'eu donzela fea
que ant'a mia porta pea.

Nom quer'eu donzela fea,
veelha de má[a] coor
que ant'a mia porta pea
nem [me] faça i peior.
Nom quer'eu donzela fea
que ant'a mia porta pea.



Cantigas Medievais Galego-Portuguesas. Faculdade de Ciências Sociais e Humanas. Universidade Nova de Portugal. Disponível em: < http://cantigas.fcsh.unl.pt/sobreascantigas.asp#7 > Acesso em 23 de set. de 16.
Faculdade de Ciências Sociais e Humanas. Universidade Nova de Portugal. Disponível em: < http://cantigas.fcsh.unl.pt/cantiga.asp?cdcant=459&pv=sim > Acesso em 23 de set. de 16.
Faculdade de Ciências Sociais e Humanas. Universidade Nova de Portugal. Disponível em: < http://cantigas.fcsh.unl.pt/cantiga.asp?cdcant=475&pv=sim> Acesso em 23 de set. de 16.
Faculdade de Ciências Sociais e Humanas. Universidade Nova de Portugal. Disponível em: < http://cantigas.fcsh.unl.pt/cantiga.asp?cdcant=479&pv=sim> Acesso em 23 de set. de 16.


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