Como dito em outra postagem, a produção de
cantigas de D. Afonso, também conhecido como Afonso, o Sábio, é
majoritariamente de Cantigas de Escárnio e Maldizer. Já apresentamos antes as
características apresentadas por cada um dos três gêneros principais de
cantigas trovadorescas, mas vale a lembrança a respeito do que são as Cantigas
de Escárnio e Maldizer.
Estas são as cantigas satíricas do
trovadorismo ou de dizer mal. Dentro da Arte de Trovar, distinguisse duas
vertentes: o dizer mal de forma encoberta ou equívoca, chamada então de
escárnio, enquanto há também o dizer mal de forma explícita e ostensiva, o qual
denomina-se de maldizer. Geralmente as cantigas são consideradas fazendo parte
de uma única definição; visto que suas características muitas vezes não são
perceptíveis, no próprio texto, para causar a diferenciação e os próprios
trovadores costumavam utilizar-se desta definição unificada.
A seguir, algumas Cantigas de Escárnio e Maldizer compostas,
separadas por asteriscos (*), por Afonso, o Sábio.
Achei Sanch[a]
Anes encavalgada
e dix'eu por ela
cousa guisada:
ca nunca vi dona
peior talhada,
e quige jurar que
era mostea;
e vi-a cavalgar
per ũa aldeia
e quige jurar que
era mostea.
Vi-a cavalgar com
um seu 'scudeiro
e nom ia milhor
um cavaleiro.
Santiaguei-m'e
disse: - Gram foi o palheiro
onde carregarom
tam gram mostea;
vi-a cavalgar per
ũa aldeia
e quige jurar que
era mostea.
Vi-a cavalgar
indo pela rua,
mui bem vistida
em cima da mua;
dix'eu: - Ai,
velha fududancua,
que me semelhades
ora mostea!
Vi-a cavalgar per
ũa aldeia
e
quige jurar que era mostea.
*
**
Dom Airas, pois
me rogades
que vos dia meu
conselho,
direi-vo-lo em
concelho:
por bem tenh'eu
que vaades
mui longe de mi e
mui com meu grado.
E por eu [vos]
bem conselhar
nom dé-vos com
estar peior,
ca vos conselh'eu
o milhor:
que vaades ora
morar
mui longe de mi e
mui com meu grado.
Conselho vos dou
d'amigo;
e sei, se o vós
fezerdes
e me daquesto
creverdes,
morar[e]des u vos
digo:
mui longe
de mi e mui com meu grado.
*
**
Nom quer'eu
donzela fea
que ant'a mia
porta pea.
Nom quer'eu
donzela fea
e negra come
carvom
que ant'a mia
porta pea
nem faça come
sisom.
Nom quer'eu
donzela fea
que ant'a mia
porta pea.
Nom quer'eu
donzela fea
e velosa come cam
que ant'a mia
porta pea
nem faça come
alermã.
Nom quer'eu
donzela fea
que ant'a mia
porta pea.
Nom quer'eu
donzela fea
que há brancos os
cabelos
que ant'a mia
porta pea
nem faça come
camelos.
Nom quer'eu
donzela fea
que ant'a mia
porta pea.
Nom quer'eu
donzela fea,
veelha de má[a]
coor
que ant'a mia
porta pea
nem [me] faça i
peior.
Nom quer'eu
donzela fea
que
ant'a mia porta pea.
Cantigas Medievais Galego-Portuguesas. Faculdade de Ciências
Sociais e Humanas. Universidade Nova de Portugal. Disponível em: < http://cantigas.fcsh.unl.pt/sobreascantigas.asp#7 > Acesso em 23 de set. de 16.
Faculdade de Ciências Sociais e Humanas. Universidade Nova
de Portugal. Disponível em: < http://cantigas.fcsh.unl.pt/cantiga.asp?cdcant=459&pv=sim
> Acesso em 23 de set. de 16.
Faculdade de Ciências Sociais e Humanas. Universidade Nova
de Portugal. Disponível em: < http://cantigas.fcsh.unl.pt/cantiga.asp?cdcant=475&pv=sim>
Acesso em 23 de set. de 16.
Faculdade de Ciências Sociais e Humanas. Universidade Nova
de Portugal. Disponível em: < http://cantigas.fcsh.unl.pt/cantiga.asp?cdcant=479&pv=sim>
Acesso em 23 de set. de 16.
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