sábado, 24 de setembro de 2016

Cantigas de Afonso X – As Cantigas de Amor


A obra de Afonso X é composta, em sua maior parte, por Cantigas de Escárnio e Maldizer. Os cancioneiros profanos transmitiram apenas três Cantigas de Amor escritas por ele. Estas são cantigas compostas com voz masculina, endereçadas a uma dama, geralmente casada ou comprometida, que é o objeto de adoração do trovador, seguindo os exemplos do “amor-cortês”.
A seguir as Cantigas de Amor compostas, separadas por asteriscos (*), por Afonso, o Sábio.
           
Pois que m'hei ora d'alongar
de mia senhor, que quero bem,
porque me faz perder o sem,
quando m'houver del'a quitar,
direi, quando me lh'espedir:
de mui bom grado queria ir
log'e nunca [m'end'ar] viir.

Pois me tal coita faz sofrer,
qual sempr'eu por ela sofri,
des aquel dia 'm que a vi,
e nom se quer de mim doer
atanto lhi direi por en:
moir'eu e moiro por alguém
e nunca vos direi mais en.

E já eu nunca veerei
prazer com estes olhos meus,
de[s] quando a nom vir, par Deus,
e com coita que haverei,
chorando lhi direi assi:
moir'eu porque nom vej'aqui
a dona que por meu mal [vi].

*
**

Bem sabia eu, mia senhor,
que pois m'eu de vós partisse
que nunca veria sabor
de rem, pois vos eu nom visse,
porque vós sodes a melhor
dona de que nunca oísse
homem falar;
ca o vosso bom semelhar
sei que par
nunca lh'homem pod'achar.

E pois que o Deus assi quis,
que eu som tam alongado
de vós, mui bem seede fiz
que nunca eu sem cuidado
en viverei, ca já Paris
d'amor nom foi tam coitado
[e] nem Tristam;
nunca sofrerom tal afã,
nen'[o] ham
quantos som, nem seeram.

Que farei eu, pois que nom vir
o mui bom parecer vosso?
Ca o mal que vos foi ferir
aquel é [meu] x'est o vosso;
e por ende per rem partir
de vos muit'amar nom posso;
nen'[o] farei,
ante bem sei ca morrerei,
se nom hei
vós que sempre i amei.

*
**

Par Deus, senhor,
enquant'eu for
de vós tam alongado,
nunc'em maior
coita d'amor,
[e] nem atam coitado
foi en'o mundo
por sa senhor
homem que fosse nado,
penado, penado.

Se[m] nulha rem,
sem vosso bem,
que tant'hei desejado
que já o sem
perdi por en,
e viv'atormentado;
sem vosso bem,
de morrer en
ced[o] é mui guisado,
penado, penado.

Ca log'ali
u vos eu vi,
fui d'amor aficado
tam muit'em mi
que nom dormi,
nem houve gasalhado;
se m'este mal
durar assi,
eu nunca fosse nado,
penado, penado.



Faculdade de Ciências Sociais e Humanas. Universidade Nova de Portugal. Disponível em: < http://cantigas.fcsh.unl.pt/cantiga.asp?cdcant=471&pv=sim > Acesso em 23 de set. de 16.
Faculdade de Ciências Sociais e Humanas. Universidade Nova de Portugal. Disponível em: < http://cantigas.fcsh.unl.pt/cantiga.asp?cdcant=470&pv=sim > Acesso em 23 de set. de 16.

Faculdade de Ciências Sociais e Humanas. Universidade Nova de Portugal. Disponível em: <http://cantigas.fcsh.unl.pt/cantiga.asp?cdcant=472&pv=sim > Acesso em 23 de set. de 16.

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